Pensava que era puro ouro, não era, nem sequer prata, era latão pincelado de uma tinta dourada não muito convincente; não convenceria outro ser qualquer, mas era ele um errante sonhador e há muito vagava sem encontrar algo que lhe valesse o esforço. Tudo que ele tinha era o desespero -- "Não sei em que momento da minha vida permiti que meus defeitos superassem minhas qualidades".
Seu desespero o levou ao delírio, à confusão, como quem mergulha em mar de amor a seguir uma sereia. Quando notara que seu "tesouro" não era mais que deslumbre momentâneo já era tarde demais, vira-se ridículo, como caçador encurralado pela presa; havia abandonado as armas e deixado-se levar, esquecera-se quem era e pagara por tal tolice. Sentira-se traído, ao primeiro momento, mas logo notou que fora ele o tolo; como se pode esperar que os pássaros não voem, que os tubarões não mordam e que mulheres não mintam?
Foi a derrota que lhe faltava, pela qual tanto havia trabalhado. Conquistou-a, mereceu-a. Decepcionara-se consigo mesmo, mas não demorou a se reerguer -- e não era ele desses que se levantam para cair de novo; quando levanta-se, é para não cair mais. Sabia o que fazer, sempre soube, mas deixou seu sonho distorcer sua visão de mundo; todo conto de fadas tem um fim, "bobeira é não viver a realidade". Confiança é algo que só se perde uma vez.
Gostaria de poder pensar que estavam em suas mãos as chaves dos corredores do seu destino e que este lhe seria glorioso -- gostaria de poder devolver essa história que lhe venderam e ele, por ingenuidade e pretensão juvenil, aceitara de bom grado. Desistira das conversas telepáticas, dos amores românticos... Já não perseguia moinhos de vento, sequer encontrara um Sancho Panza para acompanhar-lhe em delírios. Encontrava-se calmo, sereno, em plenitude sem fulminação. Livrou-se de antigos temores, riu-se deles. Temia que seu processo de amadurecimento requeresse um processo de mediocrização, mas agora tomara consciência de que mediocridade é uma questão de ponto de vista; O homem, que, nesta terra miserável mora, entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera.
Post-Scriptum: Achava que títulos com "ou" como esse eram sinal de incapacidade de decisão do autor, mas estava enganado. Ambos títulos são indispensáveis e indissociáveis (ou não).
4 comentários:
Eu tava olhando meu blog, porque tenho essa mania de achar que hoje em dia só tenho resquícios de inspiração de um tempo passado e gosto de ficar me provando isso. E vi que sempre tive vontade de vir aqui, agradecer seus comentários - porque alguma educação me resta e porque.
Posso ser sincera? A gente sempre acha que aquela dor é insuportável e que a gente aprende com os erros, que a gente é capaz de dominar as emoções só porque sofreu demais, só que. Amor e dor são quase como shampoo 2-em-1.
As pessoas ainda vão sorrir demais e ainda vão sofrer demais e ainda vão achar que aquela é a dor mais insuportável que se pode sentir e ainda vão se apaixonar de novo pra sofrer de novo e ainda vão ser enganados e a confiança vai ser perdida e renovada melhores de vezes.
Não é como se a gente pudesse se cansar disso.
Os textos que se escreve nem sempre são verdade nas palavras escritas, mas sempre tem o autor nas palavras sentidas. E talvez eu esteja errada e talvez eu tenha mania de estar sempre certa. Mas já diria, Caio, "não adianta bancar o distante, meu bem, lá vem o amor nos dilacerar de novo".
Obrigada pelos comentários, elogios e o tempo que você gastou lendo algo que eu escrevi. Desculpe a demora, tenho uma mente um pouco irregular, uso talvez demais e frequencia de menos.
Olá,
Grata pelo alinhavo de comentário no blog. Fica o convite de tecidura de outras visitas.
Parabéns pelos escritos que aqui se tecem,
Abraços,
gosto d vir aqui \o/
sempre solto alguns risos.
Decepção faz parte do caminho que é viver e, apesar de tudo, nesse trecho abaixo senti uma paz tão imensa:
"Encontrava-se calmo, sereno, em plenitude sem fulminação. Livrou-se de antigos temores, riu-se deles."
=*
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