quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Mundo Mundano - Ato III - O Híbrido

Raquel não o esqueceu assim, tão facilmente, nem mesmo chegou a esquece-lo completamente.
Também não escolheu um momento para procurar outro alguém, talvez nunca tenha deixado de procurar, talvez nunca tenha procurado. As coisas simplesmente aconteciam.

E muitas coisas aconteceram...Tantas que a fizeram sentir-se uma Geni. Pedaços de sua história corriam pelas bocas de uns e outros e, como não podia ser diferente, sobre ela só se falava o pior e por cada boca que sua vida passava, acrecentava-se uma sentença, invariavelmente, negativa.

Como se não bastasse o que se falava sobre ela, Raquel dava-lhes mais sobre o quê falar. Saia com muitos, não com qualquer um, mas surgiam tantos homens fantásticos e, as vezes, pessoas que não homens...Ela não ligava, eram, ainda assim, pessoas fantásticas.

Mas, nenhum deles supria-lhe a falta que Francis lhe fazia... Sempre que notava isso em cada um, partia pra outra. E foram muitas as vezes que partiu para outra... Não feria ninguém, todos que encontrava eram mais fortes que ela, eles nem mesmo procuravam o mesmo que ela. O que ela procurava? Não sabia... Sabia apenas que tinha que encontrar.

O mundo deu muitas voltas e, em uma dessas, conheceu Hector.

Não o via como mais um, não era assim que via nenhum, a princípio. Tentava defini-lo, mas não conseguia. Hector era um híbrido. Ele não era, por completo, absolutamente nada. Não encaixava-se perfeitamente em nenhum estilo. Pode-se dizer que ninguém se encaixa, é verdade, mas Hector era um verdadeiro mestiço. Hector nem mesmo era completamente híbrido, só meio.

Hector não era assim tão cativante, tinha sua graça, mas não a atraia por completo, só "meio". Era meio pierrot, meio arlequim. Não era feio, mas também não chegava a ser bonito. Não era maduro, também não era idiota. Não tinha toda malícia de um cafajeste, mas também não era puro. Não era chato, até que era divertido... Ainda assim, não era o bastante para ser seu alvo de paixão. Metade dela até queria-lhe como novo, a outra rejeitava-o.

Uma parte dela encatava-se com aquele sorriso largo, aquela personalidade forte, aquele jeito divertido e com outras pequenas coisas que lhe eram exclusivas, não sabia se era bom ou mal, mas não via em mais ninguém.

A outra parte entendia perfeitamente que por mais amável que Hector fosse, ele não a completaria, não a saciaria por completo.

Nisso combinavam, ambos eram híbridos. Eram duas quimeras.

Fosse como fosse, ele era, ao menos, aceitável. E, por isso, com a força de metade de si, decidiu que em Hector ela iria apostar, seria mais uma rodada na roleta do amor. Tinha muito a ganhar e pouco a perder... Ela só não esperava que, de pouco em pouco, perderia tanto... Perdeu o rumo, perdeu muito, até, de si mesma.

Hector chegou a pensar que fora por força do acaso, conspiração do universo, ou algo do tipo que haviam encontrado uma ocasião para estarem juntos, sem qualquer impecílio, só depois descobriu que tal coincidência tinha nome de mulher, Raquel.

Hector também via nela coisas exclusivas. Ele, porém, sabia que era bom, era um amante do novo, do original. Fazia o tipo dos românticos raros, dos poucos que conhecem o universo Cafa e a ele não se entregam. Sabia amar também, conseguia gostar muito de algo sem dele precisar. Era forte, portanto.

A noite em que Raquel apostava suas fichas foi lírica, libidinosa e, até, romântica. Ao mesmo tempo que Raquel buscava viver sem se preocupar, Hector deslumbrava-se com o universo novo, da nova mulher que conhecia, como fazia sempre.

Quando juntos, não precisavam falar com palavras, os corpos entrosavam-se de modo sutil, gestos falavam por eles. Hector falou, por alguns instantes, mas, logo viu que palavras eram erros, ela já sabia disso.

As poucas palavras que ela falou naquela noite gravaram-se na mente de Hector, a ferro e fogo: "Ainda teremos muito tempo." e "Até amanhã.". Depois, ele não soube se ela já sabia que o tempo que dizia que teriam não existiria e que o "amanhã" era nunca mais... Então, Hector percebeu que, talvez, não fosse tão forte quanto pensava, sobretudo quando acreditou que tinha que ser forte pelos dois. Hector era, aí, um bom samaritano que, mais uma vez, compreentendia que "O homem que entre feras vive, sente inevitável necessidade de também ser fera.", mas não se tornou fera, não era tão volúvel assim. Sabia que uma moeda de ouro na lama não deixava de ser uma moeda de ouro.

Procurou-a nos dias seguintes, nas semanas seguintes... Chegava a ser engraçado, era um sexismo às avessas. Hector evitou outras mulheres, não era tão promíscuo assim, e, além de tudo, não sentia vontade de estar com outras, apesar de serem novas pessoas, não tinham o quê de novo a mais de Raquel.

Tendo passado um mês em uma perseguição de gato e rato, Hector já se sentia um palhaço, mas não deixava de levar em conta a possibilidade de as desculpas de Raquel não serem desculpas, e se ela realmente estivesse tão ocupada assim?!

Não podia mais esperar, estava convencido da verdade, Raquel estava fugindo, evitando-o, ninguém é tão ocupado assim, "o interessado dá um jeito". Evitava procura-la, ele entendia que o mundo entendia que o que eles passaram não era nada, pra ele não era assim, mas disfaçava.

Enfim, econtraram-se. Conversaram algum tempo. As piores expectativas de Hector foram superadas pelo que Raquel lhe falou. Hector tratou a garota como uma mulher, o que feriu e Raquel quis que o garoto a entedesse, como um homem, ambos sairam feridos.

Ela lhe falou-lhe sobre outros amores, coisas como "tantos homens me amaram bem mais e melhor que você".

Hector não deixou de procurar-lhe, ainda assim. Raquel precisava tomar atitudes mais 'drásticas para que ele deixasse, e assim o fez.

Assim Raquel seguiu em frente, aos tropeços, com alguns cacos de vidro a mais...

Postscriptum:
1. Sim, o Ato III saiu antes do Ato II.
2. Corrigindo: Talvez, as atualizações só saiam de três em três dias.

3 comentários:

Diego Galeano disse...

A li de murphe é não pode ser considerada como uma lei física, foi apenas uma brincadeira felta por ele.
Nosso nosso blog já falamos sobre tal lei.

abraços.

Celamar Maione disse...

Ceres...
Por cada um estar na " sua razão" perdem-se grandes relações.
Não é fácil conviver com o amor.
Valeu pela sua visita ao meu blog.
Volte sempre.
Ri muito com o link que deixou.
Beijão

Eduarda Figueiredo disse...

To aprendendo mto com vc..x))
E..."ouvindo" as msgs q seus posts qrem passar...=D
Malz...to abalada! eUHIAUeuh!

bjão =**